quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Cultura dos Laterais




A CULTURA DOS LATERAIS




Quando se fala sobre o posicionamento dos laterais no futebol inglês é consenso que eles se portam muito mais como zagueiros pelos lados do campo do que como jogadores que avançam para o ataque com freqüência e usam toda a faixa lateral de campo, como acontece, por exemplo, aqui no Brasil.

Em terra brasilis, essa tendência vem aumentando com a popularização do 3-5-2 (a segurança dada pela presença de três zagueiros e a opção do lateral jogar como ala, isto é, ser praticamente um atacante pelo lado do campo tem atraído demais os treinadores brasileiros) e os laterais vão se especializando em jogar ainda mais à frente e, dessa vez, sem necessariamente precisar voltar para marcar.

Na Inglaterra, a invasão de brasileiros não parece se restringir à chegada de jogadores. Essa cultura dos laterais se portarem como defensores parece, lentamente, começar a cair por terra. A começar pelo Chelsea de Felipão. Desde que chegou a Londres, o técnico brasileiro vem incentivando Ashley Cole, conhecido por sua aptidão defensiva, a chegar com cada vez mais freqüência na frente e José Bosingwa, uma das novas contratações dos Blues, já tem isso incrustado no seu estilo de jogo, de muita presença ofensiva e velocidade. Essa mudança traz opções ofensivas interessantes e vem sendo muito bem utilizada pelo Chelsea, líder do Campeonato Inglês.

O Arsenal não precisou trazer um técnico sul-americano para perceber que laterais com força ofensiva trazem uma nova dimensão para o jogo. Primeiro com Emmanuel Eboué e atualmente com Bacary Sagna, os Gunners têm tido na lateral-direita, opções de jogadas ofensivas bastante interessantes. Ao invés de subirem somente na melhor chance como a maioria dos laterais da Ilha, Sagna e seu companheiro da lateral-esquerda Gaël Clichy (este com um pouco mais de parcimônia, verdade seja dita) estão sempre indo ao ataque e dando opções ofensivas à equipe. E ainda têm fôlego para recompor a defesa.

Sir Alex Ferguson parece ter percebido as vantagens de se ter um lateral mais ofensivo por acaso. Ao contratar Patrice Evra do Mônaco, o técnico escocês se deu conta de que tinha em mãos um jogador com tremendo potencial ofensivo. Antes dessa temporada, o Man. United não conseguia reproduzir o poderio ofensivo de seu lateral-esquerdo no outro lado do campo. Gary Neville e Wes Brown são essencialmente defensivos (o segundo, inclusive, é zagueiro de origem). Mas a vinda do jovem Rafael da Silva, ex-Fluminense, parece ter encantado Sir Alex Ferguson. O lateral-direito, de características bastante ofensivas, vem sendo aproveitado no time principal e iniciou, ontem, seu primeiro jogo na UEFA Champions League. Ferguson parece disposto a investir no filão de laterais ofensivos que vem dando tantos frutos a Arsenal e Chelsea.

Mas essa tendência não se reduz ao top-four. Apesar de escassos, há exemplos de laterais ofensivos em outras equipes também. Gareth Bale, do Tottenham; Luke Young e Nicky Shorey, do Aston Villa e Leighton Baines, do Everton, por exemplo, atestam isso.

O Liverpool pode muito bem explorar esse filão. É só dar vazão ao potencial ofensivo do lateral brasileiro Fábio Aurélio que, desde que se mudou para os Reds, tem ficado mais contido na defesa e só sai na boa, como a maioria dos laterais defensivos na Liga Inglesa. Para surpreender é preciso ousar, coisa que Benítez não tem feito com seus laterais que, como quase todos na EPL, são apenas defensores que, ocasionalmente, vão ao ataque auxiliar as jogadas ofensivas.

A estrela da Companhia


FRANK LAMPARD - A ESTRELA DA COMPANHIA

Muito se fala sobre Steven Gerrard e como ele é a síntese do jogador moderno: ataca e defende com a mesma qualidade e tem um senso de liderança tremendo. Após a identificação das óbvias qualidades do capitão do Liverpool, como se para atestar que se trata de um jogador de classe mundial, seus admiradores começam a compará-lo com Frank Lampard.

As comparações começam e, em quase todos os itens, Gerrard atropela seu colega de seleção: é mais rápido, chuta melhor, desarma melhor, cobre espaços com mais qualidade, etc...Parece que Lampard é apenas um jogador comum.

Não, não é. Nascido em 1978 em uma família do futebol (seu tio é o atual treinador do Portsmouth, Harry Redknapp, e seu pai já foi assistente do West Ham), Frankie Lampard é especial. Tanto para os torcedores do Chelsea quanto para os torcedores do futebol bonito, bem jogado. O jogador, vice-capitão do time de Londres, é completo como atleta. Posiciona-se com tremenda qualidade, sempre dando opções para seus companheiros; é dono de um potente chute que é certeza de perigo para o gol adversário; sua incisividade ofensiva é invejável, assim como sua capacidade defensiva (tanto nos desarmes como na ocupação de espaços). Sua liderança dentro do elenco do Chelsea é clara.

Pode-se dizer que José Mourinho tem grande participação no jogador em que Lampard se tornou: após a chegada do português, Lampard liderou o Chelsea em dois títulos inglês, duas Copas da Liga e uma FA Cup. Além de ter sido eleito o segundo melhor jogador do mundo (feito que Gerrard nunca conseguiu). Após a saída de Mourinho, ‘’Lampsy’’, como é carinhosamente conhecido pelos ingleses, balançou. Ficou por muito tempo dividido entre a possibilidade de fortificar seu legado no Chelsea e se reunir com o treinador que mais lhe marcou. A lealdade com os Blues falou mais alto e o meia renovou por cinco anos com o Chelsea.

Há tempos, no entanto, Lampard não vinha bem. Bastou uma temporada jogando um futebol abaixo da média (2006-07, que mesmo assim incluíram 20 gols na temporada e várias assistências no processo) para que seus críticos o atacassem e as comparações com Gerrard viessem à tona. Nada que abalasse Frankie: ele sabe de seu potencial e sabe do que pode oferecer aos fãs do Chelsea. Após um começo ruim na última temporada (apimentada pelo rompimento dos Blues com José Mourinho), o meia liderou uma das maiores temporadas do clube inglês, que terminou de forma trágica (com a dramática derrota na Liga dos Campeões diante do Man. United) e sem títulos (o Chelsea conseguiu incríveis quatro vices – Supercopa da Inglaterra, Copa da Liga, Campeonato Inglês e Liga dos Campeões).

O momento mais marcante da campanha veio na semifinal, contra o Liverpool. Abalado por traumas de eliminações seguidas nas mãos dos rivais, o Chelsea jogava sua vida no confronto. Com muita valentia e sorte, os Blues empataram o primeiro jogo, em Liverpool. Tudo parecia bem encaminhado no confronto de volta quando Fernando Torres empatou o jogo e levou a partida para a prorrogação. Frank Lampard, que havia perdido a mãe apenas uma semana antes, converteu o pênalti que praticamente selou a classificação do Chelsea para a sua primeira final européia. Ele comemorou chorando muito e apontando para o assento vazio do estádio ao lado de seu pai, homenagem clara a sua mãe que batia ponto em todos os seus jogos.

O legado de Lampard com o Chelsea não se estende na Seleção Inglesa. Apesar de ter mais de 60 jogos pelo English Team, Lampard é constantemente contestado pelos torcedores ingleses. É consenso que o seu estilo de jogo é incompatível com o de Steven Gerrard. Gareth Barry, volante mais contido cujo estilo casa melhor com o do jogador do Liverpool vem sendo preferido no lugar de Lampard, que perde cada vez mais espaço no time inglês. A julgar pelo brilhante início de temporada de ‘’Lampsy’’ (5 gols em 7 jogos), no entanto, Capello poderá se ver obrigado a rever suas preferências e os problemas de incompatibilidade entre Lampard e Gerrard, as duas estrelas da companhia inglesa.